Desenha
um coração no papel. Desenha-o inteiro e sem pontas soltas. Desenha-o a olhar
para mim, ou com o meu nome lá no meio. Se não souberes desenhar eu ensino-te.
Dá-me a tua mão. Deixa-me guiar-te com a minha. Deixa-me poisar o queixo no teu
ombro. Juro que não te faço cócegas com a barba
-Estás
a arrepiar-me
Juro
que não respiro contra o teu pescoço. Não sorrias assim que me desconcentras.
Olha o coração a formar-se no papel. Não tenhas medo que eu não largo a tua
mão. Desenhamo-lo juntos. Desenhamo-lo até ao fim, que os corações só são
corações quando estão inteiros. Desenha-nos a nós de mão dada por baixo do
coração. Olha para mim de mansinho que eu ajudo-te a pintar o coração. De que
cor queres pintar o coração? De que cor é o teu coração?
-Não
sei
Pinta-o
com o amarelo do sol. Pinta-o a brilhar para nós. Pinta-o com o azul do céu.
Pinta-o infinito como nós. Pinta-o com o verde das folhas, ou o castanho das
raízes. Pinta-o com todas as cores. Pinta-o como se fosse feito de tudo e não
se partisse com nada. Pinta-o como se confiasses cegamente em mim
-Confias
em mim?
Olha
a minha mão sobre a tua e um coração no papel. Agora desenha-o no meu peito.
Podes usar o teu batom vermelho. Desenha-o inteiro, desenha-o infinito,
desenha-o a brilhar. Eu confio em ti. Não o deixes a meio. Podes fazer-me
cócegas com o cabelo, podes beijar-me a boca e o pescoço e os ombros, mas não
pares. Continua a desenhar o coração até ficar inteiro. Não o deixes com pontas
soltas. Não te distraias com nada - eu sei que é difícil. Segue o rumo das
linhas como te ensinei. Desenha o meu coração e não o estragues. Faz como eu te
ensinei: primeiro a minha metade, depois a tua, primeiro a tua metade, depois a
minha. Faz como entenderes, mas não o deixes incompleto. Guarda bem o meu
coração e confia em mim. Juro que não te engano
-Desconfio
de tudo, até mesmo dos corações.
Confia
em mim, como eu confio em ti. Continua a pintar-me um coração no peito. Pinta-o
como entenderes que eu não quero saber. Quero apenas que fique inteiro.
Acredita que confio em ti para guardares o meu coração. E se me permitires acabo
esse coração que está pintado a meio no teu peito. Não tenhas medo que eu não o
deixo ficar assim. Deixa-me pintá-lo com todas as cores: como se fosse feito de
tudo e não se partisse com nada. Quem deixa os corações a meio não merece o
coração de ninguém. Acredita nisto que é verdade. Não tenhas medo que eu sei o
que estou a fazer
-Não
sei se devo confiar em ti. Tu acreditas em tudo.
Não
acredito em tudo. Acredito em corações perfeitos. Acredito em amores perfeitos.
-Acreditas
em tudo.
E se
eu desconfiar de tudo, já acreditas em mim?
PedRodrigues
Engraçado a maneira bem sequenciada como está cada parágrafo, como se a cada um que passa fosse um passo. E cada vez, não só no desenho, dois corações se juntam. Abraço
ResponderEliminarCorações inteiros. Confiança. Gostei muito mesmo. :)
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