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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

As razões por que te amo


 É Inverno e as folhas já não estão nas árvores, estão no chão.

Conheci-te na Primavera. Apareceste de repente, sem aviso, ou razão aparente. Há quem diga que as coisas boas acontecem assim, de uma forma espontânea. Eu sou uma dessas pessoas. Meteste conversa comigo usando o tempo como desculpa – eu sei, estou a exagerar. Comentaste por comentar, nunca com segundas intenções – e ainda bem que o fizeste. Agradeço todos os dias que o tenhas feito porque, ainda hoje, essa conversa continua. Vem-se continuando pelos segundos dos minutos das horas dos dias e dos meses que nos trouxeram até aqui.

 Resolvi escrever este texto para te explicar as razões por que te amo. Poderia dizer que te amo porque não vejo razões para não te amar, mas estaria a ser redundante. Já to disse mil vezes. Mas não me importo de to dizer mais mil, ou dez mil, ou cem mil. A verdade é que te trago tatuada por dentro. Sei que não gostas que fale em tatuagens

-Já és perfeito como és. Para quê estragar o que é perfeito?

Dizes-me, sempre, no teu jeito empertigado. Dizes-me e eu guardo a sete chaves num sorriso. Amo-te por isso. Porque me fazes sentir certo quando julgo que estou errado. Porque me achas perfeito sabendo que sou um compêndio de defeitos. E amo-te, sobretudo, porque não tens medo de mo dizer. Mas não é só por isto que te amo. Comecei a amar-te no dia em que te perdi. Reformulo: comecei a amar-te no dia em que imaginei como seria perder-te. Imaginei como seria se nunca mais te visse a fumar à janela, tão senhora de ti; se os teus braços nunca mais se enlaçassem no meu tronco enquanto cozinho

-Cheira bem.

(Eu orgulhoso)

Se os teus olhos nunca mais tentassem procurar mundos nos meus; se a tua voz deixasse de ecoar nos meus ouvidos; se as tuas paranóias e birras deixassem de fazer parte do meu dia a dia; se a tua mala e as tuas tralhas deixassem de ficar espalhadas pelo chão do meu quarto; se o teu sorriso deixasse de ser para mim; se os teus beijos deixassem de fazer um par com os meus; se o teu amor e o meu amor deixassem de ser o nosso amor. Imaginei tudo isto e tudo isto pode parecer muito pouco. Mas acredita quando te digo que não é. Gosto de pensar que te tenho para mim. Que ao fechar os olhos na noite anterior e ao abri-los na manhã seguinte tu continuarás comigo.

O céu parece desabar lá fora. O vento teima em abanar tudo. As estações mudam vencidas pelo cansaço do tempo que passa por nós. Somos uma gota neste oceano. Eu, tu e todos os outros que vivem no nosso tempo. Daqui a alguns anos seremos recordações. Memórias. Se tiver(mos) sorte recordar-nos-ão juntos. Não nos imagino um dos grandes amores da história, mas seremos um dos amores da história. E isso chega-me e faz-me feliz.

É Inverno e as folhas já não estão nas árvores. Contigo não sinto necessidade de olhar para baixo à procura das folhas caídas no chão. Contigo olho o desabrochar das flores e as cores garridas da Primavera e do Verão. Somos dois errados num mundo que se julga certo. Quem sabe se juntos não seremos mais que uma simples excepção.

 

PedRodrigues

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