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domingo, 4 de outubro de 2015

Domingo eleitoral


Há pouco, enquanto exercia o meu direito de voto e olhava, apalermado, para a quantidade de quadrados disponíveis naquela folha, percebi a prisão em que vivemos. Não vivi no tempo da ditadura, portanto não sei o que isso é. Vivo numa outra geração. Uma geração pálida, formatada pelas televisões e pelos meios informáticos. Somos livres e, no entanto, estamos tão presos. Não tenho o direito de fazer comparações, daí não as fazer. Falo neste momento. Na escuridão em que vivemos. O problema desta escuridão é que qualquer vestígio de luz pode parecer a solução. Não é. Aliás, pensar assim é demasiado perigoso. Nem sempre a primeira luz, depois da escuridão, nos aponta o caminho. É aí que entra a nossa consciência. É aí que entra a necessidade de olhar, pensar, agir. Falam-nos de esquerda e direita. Falam-nos em orçamentos de estado e outras coisas que parecem muito concretas e, no fundo, são demasiado abstractas. O que eu vejo – e repito, para que leiam bem: o que eu vejo – é uma prisão num pedaço de papel. Se fossemos, mesmo, livres, o boletim de voto não teria não sei quantos quadrados desejosos de uma cruz. Seria uma folha em branco. Eles que são o problema, acenam-nos com a ideia que são a solução. Serão? Não me vejo como um anarquista. Não o sou. Mas tenho plena consciência do terror escondido atrás das cores políticas. Tenho consciência dos que sofrem todos os dias. E dos outros que vivem no topo das suas torres de marfim, com todas as regalias, alheios ao que se passa cá em baixo. Não votar não é uma opção. Mas quando todas as opções são más, em quem hei-de eu votar?
Cuidado com a luz. Oxalá ela não nos cegue.

 

PedRodrigues

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