Há pouco, enquanto exercia o
meu direito de voto e olhava, apalermado, para a quantidade de quadrados
disponíveis naquela folha, percebi a prisão em que vivemos. Não vivi no tempo
da ditadura, portanto não sei o que isso é. Vivo numa outra geração. Uma
geração pálida, formatada pelas televisões e pelos meios informáticos. Somos
livres e, no entanto, estamos tão presos. Não tenho o direito de fazer
comparações, daí não as fazer. Falo neste momento. Na escuridão em que vivemos.
O problema desta escuridão é que qualquer vestígio de luz pode parecer a
solução. Não é. Aliás, pensar assim é demasiado perigoso. Nem sempre a primeira
luz, depois da escuridão, nos aponta o caminho. É aí que entra a nossa
consciência. É aí que entra a necessidade de olhar, pensar, agir. Falam-nos de
esquerda e direita. Falam-nos em orçamentos de estado e outras coisas que
parecem muito concretas e, no fundo, são demasiado abstractas. O que eu vejo –
e repito, para que leiam bem: o que eu vejo – é uma prisão num pedaço de papel.
Se fossemos, mesmo, livres, o boletim de voto não teria não sei quantos
quadrados desejosos de uma cruz. Seria uma folha em branco. Eles que são o
problema, acenam-nos com a ideia que são a solução. Serão? Não me vejo como um
anarquista. Não o sou. Mas tenho plena consciência do terror escondido atrás
das cores políticas. Tenho consciência dos que sofrem todos os dias. E dos
outros que vivem no topo das suas torres de marfim, com todas as regalias,
alheios ao que se passa cá em baixo. Não votar não é uma opção. Mas quando
todas as opções são más, em quem hei-de eu votar?
Cuidado com a luz. Oxalá ela
não nos cegue.
PedRodrigues
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