Estou sozinho em casa.
Olho da janela a chegada dos
aviões ao destino. Imagino pessoas que vêm de longe, a chegarem com as suas
bagagens - umas mais leves, outras mais pesadas. Nem todas têm as mesmas
prioridades. Para algumas, a prioridade é um abraço, para outras uma reunião,
para outras uma visita pela cidade, ou uma cama de hotel.
A casa está em silêncio e
apenas se ouvem os miúdos a jogarem futebol na rua, por isso posso escrever sem
ser incomodado. A solidão é uma coisa estranha. Apesar de gostar de estar
sozinho enquanto escrevo, sinto falta do movimento dos meus amigos pela casa. O
barulho de fundo irritante das conversas. As entradas de rompante nos momentos
menos oportunos. A certeza de alguém com quem ralhar, por não conseguir
articular as palavras. A solidão é muito boa, quando sabemos poder partilhá-la.
Ter amigos não é fácil. Não é
como carregar num botão e pedir, ou aceitar ser amigo de. A amizade não é uma
coisa digital, sem alma. Requer algo mais. Muito mais. Os amigos são uma
espécie de força motriz que nos ajuda a avançar. Os verdadeiros amigos podem
ser as pessoas mais irritantes e menos oportunas à face da terra, mas no final das
contas são uma certeza universal nas nossas vidas: sorriem connosco na bonança
e não nos abandonam na tempestade. Por vezes, calam-se para que possamos deitar
tudo para fora. Outras vezes ajudam-nos a perceber onde errámos e mostram-nos a
melhor forma de seguir o nosso caminho.
Da janela vejo o fluxo contínuo
de aviões. A cada chegada, várias prioridades. As amizades também são assim: os
amigos fazem dos amigos uma prioridade.
Abriram a porta. Desculpem,
mas tenho de terminar esta crónica.
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