Ele gostava de Bukowski e era
capaz de falar horas sobre isso. Ela tinha começado a ler o Sexus do Henry
Miller e tinha-o pousado na mesa de cabeceira. Ele sabia a Angie, dos Rolling
Stones de trás para a frente. Ela vibrava ao som das músicas que passavam na
rádio. Ele gostava de longas caminhadas pela praia, no verão, ao pôr-do-sol.
Ela adorava a verticalidade das chuvas de inverno. Ele adorava peixe grelhado.
Para ela, nada superava um bom bife mal passado. Aos olhos do mundo, eles eram
apenas mais duas pessoas condenadas ao fracasso. Matéria prima para mais um
desastre amoroso. No entanto, aos olhos um do outro, nada disso importava.
Quando estavam juntos, desafiavam as probabilidades. Enquanto ele lia Bukowski,
ela lia Henry Miller; ao terminarem, olhavam-se nos olhos, beijavam-se e
apagavam as luzes. Sempre que a Angie passava na rádio, eles desafinavam em
uníssono. No verão, passeavam juntos ao longo do areal, a ver o sol desaparecer
no horizonte e, no inverno, abraçavam-se a ouvir a chuva a despenhar-se no
chão. Ao almoço comiam peixe, e ao jantar comiam carne. Por mais diferentes que
os seus gostos fossem, eles procuravam sempre o equilíbrio. E é esta, de facto,
a palavra chave: equilíbrio.
PedRodrigues
Há poucos que se disponham a isso. À mínima diferença desistem :(
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